A pandemia do covid-19 tem alterado nosso cotidiano e a nossa relação com o espaço urbano, por isso, discussões a respeito do futuro das nossas cidades tem se tornado frequentes. Nesse cenário, os espaços públicos destacam-se como potenciais espaços para ressocialização. Ruas, praças e parques são vistos como ambientes que podem colaborar para a retomada da vida urbana de forma segura, mantendo o afastamento recomendado pela Organização Mundial de Saúde. Assim, experiências recentes mostram que os parklets podem contribuir para o retorno à vida urbana após o covid-19 por criarem espaços de lazer nas ruas e colaborarem para pequenos negócios retomarem as suas atividades.
Espaços públicos e a pandemia do covid-19
Observações recentes apontam que o uso dos espaços públicos para a prática de atividades físicas se intensificou como consequência do fechamento das academias privadas. Assim, praças e parques tem estado mais movimentados e a tendência é que esse quadro se intensifique após o fim do isolamento. No entanto, o acesso aos espaços públicos é limitado, devido à grande desigualdade social que influencia até a distribuição de áreas livres pelas cidades brasileiras. Portanto, estratégias precisam ser desenvolvidas para evitar aglomerações e a expansão do vírus.
Nesse contexto, a rua se destaca como um espaço público alternativo, tanto para a prática de atividades físicas, quanto como local de encontro. Dessa forma, pode contribuir para o retorno à vida urbana e a saída do isolamento de forma mais segura. Há tempos autores como Gehl, Whyte e Jacobs reforçam o potencial das ruas como espaços de sociabilização. Eles destacam seu papel determinante para desencorajar o uso de automóveis e estimular formas de transporte ativo por meio de bicicletas e deslocamento a pé.
Considerando o cenário atual, as discussões sobre ruas completas tornam-se cada dia mais relevantes e com mais potencial de serem implementadas. Um exemplo disso é que experiências nesse sentido tem sido realizada em cidades pelo mundo, com a implementação de ciclovias temporárias e fechamento de ruas para uso como espaços de lazer em meio a pandemia.
Foto: Ruas Fechadas em Okland para o uso de pedestres e ciclistas.
O potencial dos parklets para retomada à vida urbana
As ruas também podem exercer um papel estratégico para a recuperação econômica dos pequenos negócios afetados pela pandemia. Por isso, alguns projetos estão sendo desenvolvidas em cidades que não são o epicentro do covid-19, e que estão aos poucos afrouxando suas regras de isolamento social, para ajudar bares e restaurantes a retomarem a suas atividades de forma segura.
As estratégias se baseiam em estimular atividades em espaços abertos, por serem ambientes menos favoráveis para o vírus se espalhar. Assim, cidades estão apostando na liberação de vagas de estacionamentos para serem utilizados como áreas de serviço por restaurantes e em políticas para facilitar a implementação de parklets.
Parklets são pequenas áreas de lazer, que podem ser compostas por mesas, bancos, floreiras e lixeiras e que ocupam de 1 a 2 vagas de estacionamento nas ruas. Por serem equipamentos temporários e de fácil implementação, podem contribuir para pequenos negócios ofertarem espaços confortáveis e seguros ao ar livre para seus clientes. Além disso, também podem funcionar como local de espera para serviços de entregas, evitando aglomerações dentro dos estabelecimentos.
Em Dallas por exemplo, devido a pandemia e a crise econômica que afetou os pequenos negócios, a cidade lançou recentemente um programa para a implantação de parklet temporários. Esse programa prevê a liberação da licença mais rapidamente, e tem a duração de 10 dias, podendo ser renovado para no máximo 60 dias. Após esse prazo, caso o estabelecimento veja resultado na implementação do parklet, e cumpra os requisitos para mantê-lo, poderá aplicar para a licença permanente. Experiências similares estão sendo desenvolvidas em outras cidades, como San Marcos, New York City, Houston e Tampa para ajudar restaurantes a se manterem.
Foto: Parklet instalado pela organização Better Block em Dallas.
Quais perspectivas para o Brasil ?
No Brasil ainda não há perspectivas de quando medidas como essas poderão ser adotadas, visto que a taxa de isolamento em São Paulo está abaixo de 50% e os casos de covid-19 aumentam diariamente. No entanto, a adoção de políticas que possam facilitar a implantação de parklet, quando os casos se estabilizarem, aparenta ser promissora. Porque além de auxiliar pequenos negócios a retomarem seus serviços, também é aumentam a área de calçada e a disponibilidade de espaços públicos pela cidade. Como consequência, contribuem para que praças e outros espaços de lazer não fiquem tão lotados.
Claro que nesse cenário, estratégias de projeto para parklets deverão ser revisadas e adaptações feitas para que o risco de contaminação seja baixo, mesmo em um espaço de 10 ou 20m2. Nesse sentido, estudos de layout devem ser desenvolvidos para garantir o distanciamento recomendado pela OMS, além da utilização de materiais que sejam de fácil higienização. Também reforça-se a importância da manutenção desses espaços, com limpezas regulares e implementação de dispositivos para higienização dos usuários.
A pandemia da coronavírus mostrou como nossas cidades devem estar prontas para se adaptar em momentos de crises urbanas e cabe aos arquitetos e planejadores pensarem como podemos construir cidades mais resilientes. Espaços públicos são fundamentais para a vida pública e conforme apontado por um artigo da organização PPS, a recuperação das cidades vai acontecer neles. Portanto, esse é um momento oportuno para colocar na prática politicas publicas focadas e feitas para pessoas.
Texto: Adriane Fernanda Silva
Gestora de Projetos Soul Urbanismo
The Recovery will happen in Public Space
https://www.pps.org/article/the-recovery-will-happen-in-public-space
O que é parklet ?
https://soulurbanismo.com.br/o-que-e-parklet-2/
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