A importância da manutenção dos espaços públicos

Frequentemente quando vemos um espaço público abandonado, temos a sensação de um local deteriorado, desinteressante, no qual não existe a preocupação com o cuidado e essa sensação, tem como consequência, deixarmos de criar o vínculo com o espaço em questão. Essa falta de vínculo com o espaço, faz com que anulemos a convivência, acabamos presumindo que aquela área é uma “área sem lei”, que naquele lugar não existem normas ou regras, ou se existem, são todas violadas.
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A Universidade de Stanford (Estados Unidos), realizou uma intrigante experiência psicossocial: ao deixar dois carros idênticos, da mesma marca, modelo e cor, abandonados; um no Bronx, zona pobre e conflituosa de Nova Iorque e o outro em Palo Alto, zona rica e tranquila da Califórnia. O resultado do carro localizado no Bronx, em poucas horas começou a ser vandalizado. As rodas foram roubadas, o motor, os espelhos, o rádio. Tudo o que fosse aproveitável, levaram e o que não puderam, destruíram. Enquanto carro abandonado em Palo Alto manteve sua integridade inalterada.
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A experiência continuou. Quando o carro abandonado no Bronx estava dissoluto e o de Palo Alto permanecia impecável, os pesquisadores quebraram um vidro do automóvel de Palo Alto. O resultado foi surpreendente: foi desencadeado o mesmo processo verificado no Bronx: furtos, violência e vandalismo reduziram o veículo à mesma situação daquele deixado no Bronx. O questionamento imediatamente levantado é: por que o vidro quebrado no veículo abandonado em um bairro supostamente seguro foi capaz de estimular todo um processo criminoso?

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Um vidro quebrado em um automóvel abandonado transmite uma ideia de degradação, desinteresse, de descuidado. Nos dá a impressão de rompimento dos códigos de conduta e convivência, nos entender que naquela região a lei encontra-se ausente, não existem normas ou regras. Cada novo vandalismo ratifica, amplia e intensifica essa ideia, tornando a situação cada vez mais insustentável.

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Foto: pt.dreamstime.com

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Baseada nessa experiência, surgiu a “Teoria das Janelas Quebradas” por James Q. Wilson e George L. Kelling, os autores falam sobre a estratégia de resultado para prevenir o vandalismo, resolvendo os problemas quando ainda são pequenos, de forma que a manutenção dos espaços, seja um evento frequente. Alguns exemplos citados são: em um edifício com algumas janelas quebradas; se as janelas não são reparadas, a tendência é que os vândalos depredem ainda mais janelas. Ou considerando uma calçada com algum lixo acumulado; em seguida, mais lixo se acumula. Provavelmente, as pessoas começarão a despejar mais e mais lixo. Em conclusão, para os autores, consertar o que foi depredado ou limpando a calçada, rapidamente, a tendência é de que os espaços permaneçam civilizados.

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Na Europa, em cidades como Barcelona, Madri, Lisboa, a cidade do Porto encontramos uma característica similar ao citado na “Teoria das Janelas Quebradas”, o poder público adota a estratégia da manutenção constante do mobiliário público. Antes, havia um número crescente de depredações dos pontos de ônibus e consequentemente, esses espaços acabavam se destacando de maneira negativa para o público. A solução encontrada foi criar equipamentos de mobiliário público, modulares, bonitos, práticos e funcionais, que facilitem a manutenção e reposição de peças que, por ventura, estejam danificadas. Tão importante quanto adotar o uso de peças de fácil reposição, foi aderir a manutenção regular constante dos espaços. Dessa maneira, quanto mais organizado o espaço se encontra, menos depredação haverá, já que este não estará em estado de abandono. Há até uma classificação entre os vândalos, entre primários e secundários: os primários, são aqueles que praticam o vandalismo de maneira destemida, na primeira oportunidade depredam os equipamentos (amassam uma placa, quebram o vidro, entre outras situações que acontecem pela primeira vez no espaço público). Já os vândalos secundários, são aqueles que se aproveitam de uma situação de abandono já existente para danificar ainda mais o cenário existente. Para o poder público europeu, a cada um vândalo primário barrado na depredação do espaço público, dez secundários não terão a possibilidade de vandalizar o espaço, que se encontrará em prefeito estado de conservação.

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Analogamente, no Brasil encontramos situações parecidas de abandono e vandalização dos espaços públicos. Não é incomum na cidade de São Paulo encontrarmos praças, parques e ruas em situação de descuido, desde o paisagismo na vegetação, em que não se realiza a poda e o corte com frequência, ou a falta de iluminação e reposição de lâmpadas queimadas; calçadas quebradas, dando o aspecto de abandonado e imediatamente, causando a sensação de insegurança no local.

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A partir dos exemplos citados, percebemos que a importância em manter a regularidade da manutenção dos espaços e mobiliários públicos/privados está então, no fato dessa estratégia inibir a depredação e a consequente desvalorização das regiões. Havendo um espaço bem apresentado, consequentemente haverá uma maior ocupação, um maior interesse da população em estar inserido nesses locais e potencialmente, serão criados vínculos com os espaços, tornando-os ainda mais sociais. Cada dia mais, é crescente a necessidade em se sentir inserido e pertencente a cidade, criando vínculos com os espaços, agregando sentimento e alma à cidade.

Manutenção Equipe Soul
A este texto temos um agradecimento em especial: a José Flavio Cury, obrigada pelo compartilhamento das experiências vividas e estudas em sua estadia na Europa – seu conhecimento enriqueceu de informações nosso texto, fazendo com que tivéssemos mais argumentos e referências.”

Foto: Equipe técnica Soul Urbanismo

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Texto: Rafaela Santos
Equipe Soul <3

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